domingo, setembro 09, 2007

encontro

dois caramujos se encontraram. de leve testaram suas cascas, para ver qual mais pesava. de longe nenhuma das duas sabia medir o tamanho e o peso das casas. nem as cascas, nem elas, que no caso poderiam ser duas caramujas. se encostaram e com medo de dormir não fecharam os olhos. tentavam conversar, mas toda conversa só ia até a ponta da língua. e caramujo tem língua? se indagava um visitante noturno. deve ter língua do pensamento. eu não deixava a música chegar no final, mas eu não estava na história. com esforço, um dos dois, de vez em quando punha a perna para fora. não muito, para não desmedir o lugar em que estava. o outro fingia não ver, que olhar era muito perigoso. ou perigava mostrar-se demais. vinham-se chuvas, mas bem distantes, tão distantes que era preciso perceber que o tempo lerdava. no caso de estarmos contando a história do avesso, a chuva era matéria passada. o jardim já havia molhado e secado. mas quem percebia? senão talvez o visitante, que estava fora da casa. um outro enfim resmungou. disse querendo dormir. teve pronto silêncio, mas foi só impressão. de breve o outro de lá respondia: se você quiser dormir, dorme, mas eu vou ficar acordado.

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